terça-feira, 30 de junho de 2015

Decência, Essa Indecente

Mica Andrade em
Living Lust,
Direção: Nickk e Jully DeLarge
 
Hoje em dia não existe mulher decente 
- choraminga o bicho homem.
Pedi a ele que me dissesse o que significava decência, qual era a importância desta palavra pra ele. A única coisa que pude ouvir no ambiente foi o som do silêncio - então é isso que significa decência pra você? É uma coisa tão vaga assim? Pode ser qualquer coisa que você quiser que seja? Sinto lhe informar meu senhor, mas a decência não dispõe a seu favor. 
Aí fui procurar o que realmente significava decência e encontrei isso: Decência, do latim decentia, é a qualidade daquele ou daquilo que é decente. Ela está em conformidade com o sistema de crenças de uma determinada cultura, e, portanto, seus padrões podem variar ao redor do mundo. E ainda encontrei isso: s.f. Respeito aos bons costumes; reserva; honestidade; dignidade nas maneiras, na linhagem. Pundonor.
Descobri que sim, a decência serve ao dispor desse senhor, serve ao dispor de tudo e todos, é uma danada! Para manter sua existência se instala na necessidade de ordem como algo essencial, como base de uma conduta sólida. Na boa? Que se foda a decência! Ainda bem que está faltando mulher decente. Uma grande bosta, é isso o que a decência é pra mim: UMA BOSTA GIGANTESCA. Uma bosta que se instalou no cu do cérebro de vocês e fica alí, propagando um monte de merda na mente.
Agora vem a melhor parte: respeito aos bons costumes, b-o-n-s c-o-s-t-u-m-e-s. Costumes que se armam contra tudo aquilo que o ameaça. Os bons costumes se ameaçam contra tudo porque é de sua natureza ameaçar para manter a ordem. Te torna um ser indigno apenas para manter seu costume de ser bom, mesmo já não sendo bom, por pura vaidade.
Decência, um monte de palavras que os seres humanos associam entre si como sendo a mesma coisa mas na verdade uma coisa não tem nada a ver com a outra, e vocês ainda querem me enfiar por guela abaixo que devo ser decente, porque mulher tem que ser decente, porque a decência te faz um ser humano melhor. (Risos)
A própria decência confunde honestidade com "respeito aos bons costumes". Essa decência indecente que faz as pessoas acreditarem que você não é honesto se não respeitar o que lhe é imposto. Esses bons costumes de bom nada tem a me oferecer - não seria desonesta eu comigo mesma se respeitasse modos que por costume apenas levam agressão em suas ações? Não obrigada. Prefiro ser desonesta contigo ao invés de ser desonesta comigo, cara sociedade.
Dispa-se de si mesmo. Fique completamente pelado. Não tire apenas as roupas, tire todas as barreiras que você mesmo colocou para não enxergar o que reside em sua essência. Estar pelado não é quando você se olha no espelho e enxerga um corpo nu. Estar pelado é quando você olha pra dentro de si, se reconhece em todos os seus monstros e se gratifica por toda a benevolência que sobrevive meio a tanta maldade. Isso é estar pelado, é estar frente a si mesmo completamente desarmado. Sem roupa, sem máscaras, sem moral, sem dignidade, sem decência. Pois nada disso importa quando estamos pelados frente a nós mesmos. Esse tipo de coisa é o que mantém essa falsa ordem. É o que mantém esse monte de gente fugindo de si mesmos. 
Está faltando mulher decente, meu senhor? É porque descobrimos que essa decência, essa palavra que você só sabe o nome, e significado algum possui, essa tal de decência é também a mais indecente de todas. Engana o homem desde sua existência como palavra. Já que na própria decência reside a indecência, imagine em mim.

sábado, 27 de junho de 2015

Goze Com Seu Corpo, Mulher

Photo: Les Chux
Antes de pensar em trepar com os os outros, trepe consigo mesma.
Bendito seja o corpo que conhece a ti mesmo!
Creio que este pensamento nasceu comigo. Minha mãe sempre me conta que depois de muito brincar, não importava onde eu estava, em algum momento do dia eu dedicava a brincar com meu próprio corpo. Daquela maneira instintiva que toda menina faz. Não sabe bem o que está fazendo mas a única coisa que importa naquele momento é aquela sensação gostosa que causa. De costas eu deitava, entrelaçava as pernas e alí me divertia com as sensações que o clitóris me proporcionava, mesmo desconhecendo a função ou até mesmo a existência dele. E eu fazia isso onde eu estivesse: no quarto, na sala, na cozinha, no quintal,  na casa de parentes e até mesmo na van da escola. Lembro muito bem que quando estava na pré-escola eu sempre era a última a ser levada para casa, quando me via sozinha na van escolar, os bancos do fundo se tornavam meu playground, um playground que me fazia mergulhar em meu próprio corpo. Eu era uma criança, e como toda criança, a curiosidade sobre meu próprio corpo e sobre os corpos das pessoas a minha volta me despertava muito interesse, e eu nunca tive receio em ir de encontro a esse Universo desconhecido. Não era ruim, muito pelo contrário, era muito bom. 
Nós mulheres nascemos com uma parte do corpo cuja única função é nos causar prazer. Foi um trabalho árduo da sociedade domesticar esse instinto. Sujas, imorais, escória. É isso que querem que sintamos quando nos tocamos. Um prazer repudiado. Mas se é prazer que me causa, e destinamos a palavra prazer para coisas boas nessa vida, por que deveria eu enxergar minha sexualidade como algo ruim? Não deveria. Isso é tão contraditório que não sei como perdura por tanto tempo. Em algum momento da história alguém decidiu que os instintos humanos eram perigosos e para manter a ordem era necessário controlar esses impulsos. Só não fizeram cartazes de procurado para o clitóris para que mais mulheres não descobrisse a existência dele. Decidiram, sem me questionar, que a minha sexualidade é repugnante. Enquanto eu, decidi que vou continuar gozando com meu corpo, sem culpa. 
Nunca senti culpa ao me tocar. Não sei se isso se deve ao fato de nunca ter sido repreendida pela minha mãe quando me encontrava descobrindo o meu corpo. De certo modo, por mais sútil que tenha sido, essa atitude em não me repreender nesse momento  de intimidade e descoberta fez com que eu crescesse enxergando o sexo como ele é: natural. Tão natural quanto a vida e a morte.  
Por isso eu te digo, mulher: seu corpo é lindo. Seu clitóris e sua buceta são seus aliados no universo do prazer. Se toque de que a única pessoa que tem o poder de mostrar como a sua sexualidade deve ser sentida é você mesma. Se toque sem culpa, e se toque como queira.
Se masturbe ouvindo Blues, sem medo e sem receio. Se ame, contemple seu corpo, o conheça. Descubra e sinta os prazeres que seu corpo anseia por desfrutar contigo e prolongue a sensação de felicidade. Orgasmos múltiplos garantidos!